Por Davi Helon de Andrade
Lembro-me
de que quando eu era menor, meus pais costumavam me disciplinar quando eu os
desobedecia. E tenho a convicção que eles faziam isto porque queriam o melhor
para mim e me amavam.
Muitas vezes me disciplinavam para
ensinar sobre a vida, como trabalho (limpar a casa), não mais mentir, não mais
desobedecê-los, não mais falar palavrão, estudar, e tantos outros motivos.
Dentro da Igreja também deve haver
disciplina. É a disciplina que faz com que os crentes sintam-se responsáveis
diante do Corpo de Cristo. A disciplina tem como objetivo a recuperação de
pessoas, colocando-as no caminho certo, e também visa levar os crentes a temer
mais ao Senhor.
Wayne
Grudem escreve:
“Seria muito saudável para a igreja
começar a pensar em disciplina não como um fardo imposto pelo Senhor, mas como
um autentico “meio de graça”, pelo qual grandes bênçãos podem vir a igreja –
reconciliando os crentes entre si e com Deus, fazendo voltar à obediência o irmão
que está em pecado, exortando todos a que temam[1]”.
Infelizmente
muitos não gostam da palavra disciplina dentro da Igreja como se fosse algo que
excluísse a graça de Deus, pois Deus é amor. Mas ela é necessária, pois a
Bíblia diz que a igreja é uma família, nascemos do Espírito (Jo 3.5,6) e somos
chamados de filhos de Deus (Jo 1.14; Rm 8.14-16; Ef 1.5; 2.19), e como membros
dessa família temos o cuidado do Pai (Mt 6.25-34) e também a disciplina (Hb
12.6). Aquele que não é disciplinado por Deus, é bastardo (12.8).
“Se vocês não são disciplinados, e a
disciplina é para todos os filhos, então vocês não são filhos legítimos, mas
sim ilegítimos”. Hebreus 12:8
A Bíblia nos trás ensinamentos bem claros quanto à
disciplina, e usaremos para o nosso estudo como texto base Mateus 18.15-17.
A luz deste texto veremos alguns passos
para a disciplina com a comunicação direta.
1 OS PASSOS DA DISCIPLINA ECLESIASTICA
A 1o
Passo: Você e o irmão.
“Se o seu irmão pecar
contra você, vá e, a sós com ele, mostre-lhe o erro. Se ele o ouvir, você
ganhou seu irmão”. v. 15.
A1 “Se o seu irmão”.
A Bíblia diz que nós somos uma família (Ef 2.19),
nascemos pelo Espírito (Jo 3.5,6), e pelo Espírito podemos chamar a Deus de pai
(Rm 8.14-16), ou seja, dentro de uma
Igreja, somos todos irmãos.
Antes de tudo temos que nos
tratar como irmãos e não como inimigos. Não é o objetivo deste estudo, mas
temos que viver a “mutualidade cristã” (Sig Reciprocidade, troca) e podemos
contar pelos menos 25 delas no Novo Testamento.
1.
Amem-se
uns aos outros (Rm 12.10)
2.
Aceitem-se
uns aos outros (Rm 15.7)
3.
Saúdem-se
uns aos outros (2 Co 13.12)
4.
Cuidai
uns dos outros (1 Co 12.25)
5.
Sujeitem-se
uns aos outros (Ef 5.21 -22)
6.
Suportem-se
uns aos outros (Cl 3.13)
7.
Não
tenham inveja uns dos outros (Gl 5.26)
8.
Deixem
de julgar uns aos outros (Rm 14.13)
9.
Não
se queixem uns dos outros (Tg 5.9)
10.
Não
falem mal uns dos outros (Tg 4.11)
11.
Não
mordam e devorem uns aos outros (Gl 5.15)
12.
Não
provoquem uns aos outros (Gl 5.26)
13.
Não
mintam uns aos outros (Cl 3.9)
14.
Confessem
os seus pecados uns aos outros (Tg 5.16)
15.
Perdoai-vos
uns aos outros (Tg 5.15)
16.
Edifiquem-se
uns aos outros (1 Ts 5.11)
17.
Ensinem
uns aos outros (Cl 3.16)
18.
Encorajem
uns aos outros (At 13.15)
19.
Aconselhem-se
uns aos outros (1 Ts 5.12)
20.
Cantem
uns para os outros (Cl 3.16)
21.
Sirvam
uns aos outros (1 Pé 4.10)
22.
Levem
as cargas uns dos outros (Gl 6.2)
23.
Hospedem
uns aos outros (1 Pé 4.9)
24.
Sejam
bondosos uns para com os outros (Ef 4.32)
25.
Orem
uns pelos outros (Tg 5.16)
Logo temos
que entender que temos ordens bíblicas de zelarmos pelos nossos irmãos.
A2 “Pecar contra voce”
Errar o alvo de que maneira?
Pecado é qualquer coisa que se desvia (erra o alvo) dos
absolutos de Deus.
Logo qualquer pecado que venha a meu
conhecimento é passível de eu ir ter com meu irmão. Por menor que seja, pois um
alvo pode ser errado por milímetros.
Qualquer pecado é contra Deus, e também é contra o corpo
de Cristo, pois somos o corpo de Cristo e quando existe o pecado o corpo todo
sofre. Por isso a necessidade de argüição. E por isso você tem uma ordem bíblica
ir até o seu irmão e Argüi-lo, mostrar-lhe o erro (e;legxon –
aoristo imperativo), “trazer a luz, expor, mostrar...convencer,
apontar, persuadir[3]”.
Quando sei do pecado do meu irmão e não vou argui-lo eu
me torno cúmplice das obras infrutíferas das trevas.
“Não participem das obras infrutíferas das trevas; antes,
exponham-nas à luz.”. Ef 5.11
A3 “entre ti e ele só”,
Não deve
haver mais ninguém no processo, o texto é claro em afirmar que é somente entre
ti e a pessoa.
Gostamos muito de compartilhar com outras pessoas algo
para orar, e isto até parece madura, mas dependendo do caso é errado.
Muitas vezes fazemos porque gostamos de falar mal de
outras pessoas. Mas é errado.
Outro modo que muitas vezes fazemos, é falar do mal de um
irmão na frente de outros irmãos, enquanto deveríamos ir ter com ele.
Ou muitas vezes comentamos o erro de um irmão
simplesmente por fofoca.
Por mais simples que seja o erro do outro irmão eu não
devo falar dele para outras pessoas, mas sim com ele mesmo. Pois se falo de
outras pessoas eu não os ajudo crescer que é uma ordem bíblica (Cl 3.16), e
entro no campo da fofoca que é outro pecado passível de argüição também:
Lv 19:16 “Não espalhem calúnias entre o seu povo. "Não se levantem
contra a vida do seu próximo. Eu sou o Senhor.”
2 Tm 2:16 “Evite as conversas inúteis e profanas, pois os que se dão a isso
prosseguem cada vez mais para a impiedade...”
Tg 1.26 “Se alguém se considera religioso, mas não refreia a sua língua,
engana-se a si mesmo. Sua religião não tem valor algum!”.
Lembrem-se,
por mais simples que seja o pecado do irmão a minha responsabilidade é ir até
ele.
É SUA
RESPONSABILIDADE.
Um
conselho a ser dado, é que você ore antes de ir falar com o irmão, interceda, e
depois vá. POIS MUITAS COISAS PODEM SER ESCLARECIDAS. (Exemplo do Jair)
Diante desta primeira conversa dois fatos poderão
ocorrer.
1o Fato: Se o teu
irmão ouvir, você o recuperou e tudo termina;
2o Fato: Se ele não
te ouvir, então dê o segundo passo, que vem a seguir.
B 2o
Passo: Você e mais alguma pessoa.
“Mas se ele não o ouvir, leve consigo mais um ou dois outros, de
modo que ‘qualquer acusação seja confirmada pelo depoimento de duas ou três
testemunhas”. v. 16
O segundo passo só é dado se a pessoa não aceitar a
repreensão do primeiro.
Quando
é a hora certa de passar do passo 1 ao passo 2? Devemos pedir a Deus
discernimento e sabedoria para ver quando não há mais progresso no contato
individual e está caracterizado que a parte ofensora não "quer ouvir".
Veja que
o segundo passo já envolve mais pessoas, as quais servirão de testemunha[4].
Neste caso chame um líder da igreja, um presbítero, ou alguém responsável por
um ministério.
Diante deste fato duas coisas
poderão acontecer:
1o
Fato: Se o irmão ouvir você e as pessoas que o acompanharam,
vocês recuperaram esse irmão, e tudo termina aqui.
2o Fato: Se teu
irmão não der ouvidos, então partam para o passo que vem a seguir.
C 3o Passo: Leve-o a Igreja.
“Se ele se
recusar a ouvi-los, conte à igreja; e se ele se recusar a ouvir também a
igreja, trate-o como pagão ou publicano.”. v. 17
Vamos
frisar bem que o terceiro passo só poderá ser dado se o irmão não aceitar a
repreensão do segundo. Como nos demais passos, um dos dois fatos a seguir
surgirão como resultado.
C1 “O "dizer à igreja",
Em uma
estrutura presbiteriana, equivale a relatar
ao Conselho. Em qualquer situação, o relato, agora, deve ser
feito pelo primeiro irmão ou irmã e pela outra ou outras testemunhas,
envolvidas no Passo 2.
Se
você já argüiu sozinho e agora com testemunhas e nada, escreva uma carta ao
conselho da Igreja e entregue para que este tome providencias[5].
1o
Fato: Se o irmão ouvir a igreja, encerra-se o caso e ele foi
recuperado.
2o
Fato: Se o irmão não ouvir a igreja, ele dever ser considerado gentil
e publicano, isto é, fora dos nossos.
C2 4º Passo: Exclusão
“...trate-o
como pagão ou publicano.”
Exclusão
é a mais extrema medida disciplinar da Igreja. Exclusão por mais difícil que
seja, é bíblico.
D E as disciplinas públicas
Dependendo do caso a disciplina deve
ser pública, quando o pecado é público.
Repreensão pública (I Tm 5.20) “Quanto aos que vivem no pecado, repreende-os na presença
de todos, para que também os demais temam”.
Nesta o individuo não é excluído da
Igreja, mas repreendido publicamente.
“Pecados
públicos quer dizer, não meramente pecados cometidos em publico, mas pecados
que causam ofensa pública e muito geral[6]”.
Podemos descartar alguns exemplos.
·
Escândalo
sexual (adultério, sexo pré-conjugal)
·
Escândalo
financeiro.
·
Vícios.
·
Brigas
em público.
Paulo
nos dá também um exemplo em I Coríntios 5.I-13 de exclusão pública do individuo
que aparentemente não quer reconciliação.
A
pecados que o ofensor terá que ir pedir perdão ao ofendido, pois senão ele não
poderá cultuar a Deus. (Muitas vezes o ofendido é a igreja toda).
“Portanto,
se você estiver apresentando sua oferta diante do altar e ali se lembrar de que
seu irmão tem algo contra você, deixe sua oferta ali, diante do altar, e vá
primeiro reconciliar-se com seu irmão; depois volte e apresente sua oferta.” Mateus
5:23-24
E Como é aplicada a disciplina?
Em todo momento, a disciplina deve ser
com o desejo de restaurar o irmão e nunca retalhá-lo.
A Igreja presbiteriana do Brasil tem
no seu manual que:
“As censuras na igreja podem ser
escalonadas desde a simples admoestação, pela exclusão da Ceia do Senhor, até a
expulsão da congregação”.
Dependendo do caso somente uma simples
admoestação e pronto, o irmão é admoestado e tudo se resolve.
Se alguém cometeu um pecado publico,
mas se arrependeu, se o indivíduo tem cargos na Igreja, é sadio tirá-lo por um
momento dos cargos, até a recuperação final e neste momento alguém acompanhá-lo
até a recuperação.
Mas, se a pessoas não se arrepende e
nem mostra mudança, deve ser excluída.
II IMPLICACOES DE NÃO HAVER DISCIPLINA
A Quando não vou até o irmão, me torno cúmplice das obras das
trevas.
Quando sei
do pecado do meu irmão e não vou argui-lo eu me torno cúmplice das obras
infrutíferas das trevas.
“E
não sejais cúmplices nas obras infrutíferas das trevas; antes, porém,
reprovai-as”. Ef 5.11
B A falta de disciplina trava a Igreja
Josué 7.1-26
Quando
eu não vou até o irmão que eu sei que esta em pecado eu estou sendo conivente
com o pecado dele e sei de algo que esta impedindo o crescimento da igreja,
tanto numérico como espiritual.
Um
grande exemplo é que quando o povo de Israel estava conquistando a terra
prometida e o Senhor havia dito para que houvesse santificação no meio do povo
porque ele faria maravilhas (Js 3.5), o povo atravessou o Jordão, e tiveram
vitória contra Jericó, porém o senhor havia dito:
“Mas fiquem longe das coisas consagradas, não se apossem
de nenhuma delas, para que não sejam destruídos. Do contrário trarão destruição
e desgraça ao acampamento de Israel.
Josué 6:18”. Js 6.18
Josué 6:18”. Js 6.18
O povo venceu a batalha, e
continuo seu caminho, e agora enfrentaria Ai e era um povo bem menor que Jericó
(Js 7.5) e Israel foi envergonhada lutando contra este povo (Js 7.4,5).
O motivo foi que um homem
chamado Acã havia pegado despojos de guerra em Jerico e os escondeu (Js 7.20,21).
Neste texto o pecado não
foi imputado somente a Acã, mas a toda a nação (Js 7.11).
No caso de Acã ele foi
julgado segundo as regras da época, ele e sua família foram apedrejados (Js
7.25)
Quando existe pecado no
meio do povo de Deus e não trabalhamos com ele, a Igreja trava, pois somos um
corpo e podemos perder pequenas batalhas. Pelo pecado de um, todo o corpo pode
travar.
III QUAL O PROPÓSITO DA DISCIPLINA?
A. Glorificar
a Deus por intermédio da obediência às Suas instruções (Mt 18.15-17).
B. Recuperar o
ofensor, “se...ouvir” (Mt 18.15-17)
(2 Ts 3.15).
C. Manter a
pureza da igreja e sua adoração (1 Co 5.6-8).
D. Exigir a
integridade e a honra de Cristo e a doutrina que ele ensinou (2 Co 2.9, 17).
E. Impedir
outros de caírem também em pecado (1Tm 5.20).
F. Evitar
darmos causa a Deus para Ele próprio voltar-Se contra uma igreja local (Ap
2.1-7).
Nosso propósito na disciplina nunca deve ser punir
alguém com um desejo de vingança, mas sempre restaurá-lo e curá-lo.
A
disciplina deve ser feita com bondade e humildade e com uma genuína avaliação
de nossa própria fraqueza, acompanhada de um temor de que podemos cair em
pecado semelhante.
“Irmãos,
se alguém for surpreendido em algum pecado, vocês, que são espirituais deverão
restaurá-lo com mansidão. Cuide-se, porém, cada um para que também não seja
tentado”. Gl 6.1
CONCLUSÃO
Como
tenho agido diante dos pecados?
Que
possamos sempre seguir os passos.
Eu sei
que não é fácil para nenhum de nós o fato de trabalharmos com disciplina, e difícil,
especialmente quando envolve entes queridos.
Vamos
nos ajoelhar neste momento pedindo a Deus, que nos livre de sermos
disciplinados, que Ele tenha misericórdia de nós, mas que Ele também nos de
força e sabedoria em tratarmos deste assunto na Igreja.
E que
nossa Igreja seja uma Igreja limpa e que continue marchando sobre a terra sem
empecilhos.
Até o próximo post
Até o próximo post
[1] GRUDEM, Wayne A. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida
Nova, 1999, p.
[2] BROWN, Colin, COENEN, Lothar. (orgs). Dicionário internacional de Teologia do Novo Testamento.
2.ed. São Paulo: Vida Nova, 2000, p. 1602.
[3] RIENECKER, Fritz, ROGERS, Cleon.
Chave lingüística do Novo Testamento grego. São Paulo: Vida Nova, 1995.
Pag. 70.
[5] Manual Presbiteriano edição
especial com notas, jurisprudência e resolução do SC-IPB / Silas de Campos
(Organizador). São Paulo: Cultura Cristã, 2008, pag. 96. Capítulo VI,
Art 42. Parágrafo 2.
[6] BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. São Paulo: Editora
Cultura Cristã, 2001, pag.553.
Nenhum comentário:
Postar um comentário