Por Davi Helon de Andrade
Algo de sumo importância
para entendermos bem tanto no Antigo como o Novo Testamento e o modo de Deus se
relacionar com o homem são as alianças, pois muitas das heresias existentes vêm
de uma má compreensão das mesmas. A importância de se conhecer as alianças é de
suma importância para nortear nossos passos teológicos. Um exemplo que podemos
dar é que as igrejas de origem calvinistas têm como base a teologia do Pacto
(aliança), porém por um entendimento diferente em alguns pontos nas alianças,
surge a teologia dispensacionalista.
Porém, é importante
ressaltar que Teologos dispensacionalistas e aliancistas colocam-se lado a lado
na afirmação dos princípios essenciais da fé cristã e também muitos pontos em
comum e dentro de ambas as posições existem teólogos eruditos e piedosos.
A diferença nas duas
correntes teológicas encontra-se na hermenêutica.
O dispensacionalista
acredita que dentro da revelação bíblica há varias épocas, cada uma marcada ela
maneira distinta de Deus tratar com o homem. Cada uma destas diversas formas
chama-se dispensações, podendo ser até sete.
Diferentemente a Teologia
do Pacto acredita que Deus se relaciona pactualmente com suas criaturas desde a
eternidade.
Por isso através deste
estudo, pretendo mostrar de uma maneira consistentemente bíblica da teologia do
Pacto.
Soli Deo glória
1 CONCEITO
DE ALIANÇA
Quando
pensamos na palavra aliança ou pacto, o primeiro conceito que vem à mente é a
ideia de um contrato entre, pelo menos, duas partes, tendo nesse contrato, condições, promessas e
penalidades.
O conceito bíblico de
aliança não se distancia do que costumamos ver ou pensar.
Como então podemos
definir aliança bíblica para assim a entendermos?
Aliança é um acordo de sangue, imutável e
divinamente administrado.
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A partir desta definição vejamos
o conceito de aliança na Bíblia.
A A
palavra aliança
1.
No Hebraico
A palavra para aliança ou
pacto em hebraico é berith, e aparece cerca de 290 no Antigo Testamento, sendo sua
etmologia incerta.
Segundo Mauro Meister as
posições mais defendidas são:
“1.Que berith é derivada do assírio birtu, que significa
"laço", "vínculo"; 2. Que o substantivo tem origem na raiz
de barah, "comer," que aparece poucas
vezes no Antigo Testamento (2 Sm 3.35; 12.17; 13.5; 13.6; 13.10; Lm 4.10), e
está relacionado com a cerimônia que selava um acordo ou relacionamento entre
partes; 3. Que o substantivo está ligado à preposição bein "entre."(33)[1]”
Estudiosos do Antigo Testamento como W.J.
Dumbrell, Gerard Van Groningen, Mauro F. Meister e O. Palmer Robertson defendem
a primeira alternativa que diz que berith
é derivada do assírio birtu,
significando “laço”, “vínculo”[2].
Já Berkhof diz:
“...que a opinião mais
geral é que deriva de barah, pois
contem uma reminiscência da cerimônia mencionada em Gn 15.17.[3]”
Mas, também comenta: “...
a questão da derivação não tem grande importância para a elaboração da doutrina[4]”.
Ao estudarmos a palavra berith no Antigo Testamento, “a raiz da
palavra não é usada em parte alguma como verbo no Antigo Testamento, como
também nenhum derivado desta raiz;[5]”
Charles Hodge com
respeito ao seu significado diz:
“ainda
que às vezes seja empregada pra denotar a lei, um arranjo ou uma disposição
geral, onde os elementos de um pacto, estritamente falando, estão ausentes,
todavia não pode haver dúvida de que, segundo seu uso prevalecente no Velho
Testamento, significa um contrato mútuo entre duas ou mais partes[6]”.
Vejamos alguns exemplos
·
Gênesis
26.26-31: Abimeleque e Isaque fizeram um “acordo”, “pacto”, para viverem em
paz. Esse “pacto” foi confirmado por um juramento.
·
Josué
9.15: Josué e o Gibeonitas se uniram, por um juramento, para viver juntos em
paz;
·
Reis
5.12: Salomão e Hirão fizeram um “tratado”, “pacto”, para viver em paz
conjuntamente;
·
Samuel
20.3, 16.-17: Davi e Jônatas se uniram, quando fizeram uma “aliança” de
amizade;
·
Malaquias
2.14: O casamento é apresentado como uma “aliança”. Duas pessoas se unem, se
casam, fazem uma aliança.
É
importante ressaltar que em todos os contextos acima, a palavra berith denota a obrigação de uma pessoa para
com outra. Por exemplo: a obrigação do homem em ser fiel à mulher de sua
mocidade em Malaquias 2.14.
A etimologia
de berith, conforme defendida acima,
insinua que há mais de uma parte no pacto.
2.
No grego
Com respeito a palavra
aliança na versão grega do Antigo Testamento a septuaginta, com exceção de Dt
9.15 (marturion) e I Rs 11.11 (entole), a palavra traduzida de berith para o grego foi diatheke.
Porém, a palavra mais
correta para ser traduzir berith
seria syntheke.
A palavra syntheke no grego clássico mostra que
“duas partes que se dedicam a uma atividade em comum aceitam obrigações
recíprocas[7]”.
Mas, porque diatheke e não syntheke?
Wayne Grudem explica
muito bem:
“Os
tradutores da versão grega do antigo testamento (conhecida como septuaginta)
utilizaram a palavra diatheke e não o
termo grego comum para referencia aos contratos o acordos em que ambas as
partes são iguais (syntheke). A
palavra diatheke enfatiza que as
provisões da aliança foram estabelecidas por apenas uma das partes[8]”.
Não somente Wayne Grudem
fala sobre diatheke como as provisões
da aliança sendo estabelecidas por apenas umas das partes, mas o dicionário
Internacional de Teologia do Novo Testamento também mostra que no Grego Clássico
ela também poderia ser usada desta maneira. “Noutros lugares, sempre significa
uma ação que parte dum lado só[9]”.
Berkhof explica:
“A ideia de que a
prioridade pertence a Deus no estabelecimento da aliança, e que Ele impõe
soberanamente a Sua aliança ao homem, estava ausente da palavra grega usual[10]”.
Olhando do ponto de visto
que os autores da Septuaginta usaram a palavra diatheke podendo enfatizar que as provisões foram estabelecidas por
apenas uma das partes e que berith
trás a ideia de um contrato mutuo entre duas ou mais partes.
Wayne Grudem define
aliança desta maneira.
“Uma
aliança é um acordo imutável e divinamente imposto entre Deus e o homem, que
estipula as condições do relacionamento entre as partes”[11].
B Aliança
um acordo de sangue
O teólogo Palmer em seu livro o Cristo dos pactos, define
aliança da seguinte maneira:
“Aliança é um pacto de
sangue soberanamente administrado[12]”.
A frase “fazer uma aliança” no Antigo Testamento
significa literalmente, “cortar uma aliança”.
Palmer diz:
“O exemplo mais claro deste procedimento nas
escrituras acha-se em Gênesis 15, no tempo em que foi feita a aliança
abraâmica. Primeiro Abraão divide uma série de animais e põe os pedaços uns
defronte dos outros. Então uma representação simbólica de Deus passa entre os
pedaços divididos dos animais”.
Dessa forma, podemos dizer que a aliança foi “feita” ou “cortada”.
A explicação mais correta seria que a “divisão dos animais simboliza um ‘penhor
de morte’, no momento de compromisso da aliança. Os animais desmembrados
representam a maldição que o autor do pacto invoca sobre si mesmo caso viole o
compromisso que fez” (Jr.34.18-20).
“Farei
aos homens que transgrediram a minha aliança e não cumpriram as palavras da
aliança que fizeram perante mim como eles fizeram com o bezerro que dividiram
em duas partes, passando eles pelo meio das duas porções; os príncipes de Judá,
os príncipes de Jerusalém, os oficiais, os sacerdotes e todo o povo da terra,
os quais passaram por meio das porções do bezerro,entregá-los-ei nas mãos de
seus inimigos e nas mãos dos que procuram a sua morte, e os cadáveres deles
servirão de pasto às aves dos céus e aos animais da terra”.
Por isso, diz-se que uma aliança é na verdade um pacto de sangue,
um pacto de vida ou morte. Essa definição está em consonância com Hebreus.9.22 “...sem
derramamento de sangue, não há remissão.”
C Aliança, um acordo de sangue imutável.
As alianças entre Deus e
o homem são de caráter imutável.
Alguns podem afirmar que
há diferenças entre elas, podemos dizer que há diferentes mordomias, porém, o
elemento essencial no âmago de todas elas é a promessa “...serei o seu Deus, e eles serão
o meu povo”. (Gn 17.7,8; Jr 31.31; II Co 6.16; Ap 21.2)
Genesis 17 nos mostra que o caráter da aliança com Abrão
é eterna.
“Deus lhe respondeu: De fato, Sara, tua
mulher, te dará um filho, e lhe chamarás Isaque; estabelecerei com ele a minha aliança,
aliança perpétua para a sua descendência”. Gênesis 17.19
Davi em suas palavras finais diz que Deus estabeleceu com
ele um aliança eterna.
“Não
está assim com Deus a minha casa? Pois estabeleceu comigo uma aliança eterna,
em tudo bem definida e segura. Não me fará ele prosperar toda a minha salvação
e toda a minha esperança?” 2 Samuel 23.5
O autor de Hebreus fala de uma “aliança eterna” (Hebreus 13.20), ele
descreve uma aliança inquebrável que corre continuamente ao longo das eras.
“Ora, o Deus da paz, que tornou a trazer dentre os mortos a Jesus, nosso
Senhor, o grande Pastor das ovelhas, pelo sangue da eterna aliança,”.
D Aliança é um acordo de sangue imutável e divinamente administrado.
Geralmente um pacto é
bilateral, ou seja, as duas partes estão envolvidas, mas entre Deus e o homem
teólogos têm chamado de unilateral ou monergista, ou seja, iniciada e garantida
por Deus nos seus termos.
Neste
caso o ser humano é um receptor da aliança divina, sendo Deus o soberano
administrador.
Como
também já vimos sobre o uso da Palavra diatheke
e não syntheke, pois, a palavra diatheke
enfatiza que as provisões da aliança foram estabelecidas por apenas uma das
partes[13],
enquanto syntheke que “duas partes
que se dedicam a uma atividade em comum aceitam obrigações recíprocas[14]”.
Isso
se torna evidente nos textos abaixo:
"Contigo, porém, estabelecerei a minha aliança; entrarás na arca, tu e
teus filhos, e tua mulher, e as mulheres de teus filhos," Gn 6.18
"Farei
uma aliança entre mim e ti". Genesis 17.2
E Pontos concernentes de uma aliança
É
normal entre alianças que são feitas, existir as partes envolvidas, suas
promessas, condições e um sinal selando assim a aliança, desta forma nas
alianças de Deus com o homem também vemos:
1. As partes envolvidas.
2. Promessa da aliança
3. Condição da aliança
4. Castigo anunciado
5. Sinal (Sacramento)
Até o próximo post
[2] cf. W.J. Dumbrell, Covenant
& Creation, p. 16; Mauro F. Meister, Uma
Breve Introdução Ao Estudo Do Pacto, p. 117; Gerard Van Groningen, Covenant(s),
p. 1; O. Palmer Robertson, Cristo dos Pactos, p. 8-9.
[4] Ibid.,
p. 243.
[5] R. L. HARRIS – G. L. ARCHER – B. K.
WALKE, Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento (São Paulo:
Vida Nova, 1998), p. 282.
[7] BROWN,
Colin, COENEN, Lothar. (orgs). Dicionário internacional de Teologia
do Novo Testamento.
2.ed. São Paulo: Vida Nova, 2000, p. 58.
[8] GRUDEM,
Wayne A. Teologia Sistemática. São
Paulo: Vida Nova, 1999, p. 425.
[9] BROWN, Colin, COENEN, Lothar. (orgs). Dicionário internacional
de Teologia do Novo Testamento.
p. 58.
[11] GRUDEM,
Wayne A. Teologia Sistemática. São
Paulo: Vida Nova, 1999, p. 425
[13] GRUDEM,
Wayne A. Teologia Sistemática. São
Paulo: Vida Nova, 1999, p. 425.
[14] BROWN,
Colin, COENEN, Lothar. (orgs). Dicionário internacional de Teologia
do Novo Testamento.
2.ed. São Paulo: Vida Nova, 2000, p. 58.
MUITO BOM, PARABENS!!!
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