segunda-feira, 1 de outubro de 2012

TEOLOGIA DO PACTO - Parte 4 - A Aliança da graça




Quando o homem falhou e não conseguiu obter as bênçãos oferecidas pela aliança das obras, foi necessário que Deus criasse um novo caminho, caminho pelo qual o homem pudesse ser salvo.
             
A Confissão de Fé de Westminster, de meados do século XVII, trata da doutrina do pacto no seu capítulo VII:

DO PACTO DE DEUS COM O HOMEM
I. Tão grande é a distância entre Deus e a criatura, que, embora as criaturas racionais lhe devam obediência como seu Criador, nunca poderiam fruir nada dele, como bem-aventurança e recompensa, senão por alguma voluntária condescendência da parte de Deus, a qual agradou-lhe expressar por meio de um pacto.
II. O primeiro pacto feito com o homem era um pacto de obras; nesse pacto foi a vida prometida a Adão e, nele, à sua posteridade, sob a condição de perfeita e pessoal obediência.
III. Tendo-se o homem tornado, pela sua queda, incapaz de ter vida por meio deste pacto, o Senhor dignou-se a fazer um segundo pacto, geralmente chamado o pacto da graça; neste pacto da graça ele livremente oferece aos pecadores a vida e a salvação através de Jesus Cristo, exigindo deles a fé, para que sejam salvos, e prometendo o seu Santo Espírito a todos os que estão ordenados para a vida, a fim de dispô-los e habilitá-los a crer.



4.1      O que é a Aliança da graça?

            Nesta aliança Deus define claramente os termos que especifica o relacionamento entre si mesmo e aqueles a quem ele redimiria.


A         As partes contratantes

            As partes contratantes nesta aliança são Deus e o povo a quem ele dará a Jesus (Jo 6.37). Como já vimos, Adão, representando toda a raça humana, falhou em obedecer a condição do Pacto das Obras e incorreu na sua penalidade de morte. No entanto, o plano de Deus para salvar os seus escolhidos não podia ser revogado. Existe a necessidade de um novo representante.
            Assim, para Cristo, o Pacto das Obras não foi abolido, mas realizado. Ele cumpriu totalmente as condições do pacto, fez o que Adão não foi capaz de fazer. É por isso que Jesus disse:
"Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir". (Mt 5:17).
           
Isto simplifica a questão do paralelismo que o apostolo Paulo traça entre Adão e Cristo. Romanos 5.12-21; I Coríntios 15.21,22
            Cristo é o mediador desta aliança.

Agora, com efeito, obteve Jesus ministério tanto mais excelente, quanto é ele também Mediador de superior aliança instituída com base em superiores promessas”. Hebreus 8.6

Por isso mesmo, ele é o Mediador da nova aliança, a fim de que, intervindo a morte para remissão das transgressões que havia sob a primeira aliança, recebam a promessa da eterna herança aqueles que têm sido chamados”. Hebreus 9.15

e a Jesus, o Mediador da nova aliança, e ao sangue da aspersão que fala coisas superiores ao que fala o próprio Abel”. Hebreus 12.24

     
B         A Condição (ou requisitos) para a participação na aliança

            A condição para participar desta aliança é a fé na obra de Cristo, o redentor. (Rm 1.17; 5.1, Ef 2.9,10). Esta também valia no Antigo Testamento, como Paulo mostra claramente. Rm 4.2,3, 6.
            A salvação não é pelas obras, como no pacto da Criação, mas somos salvos, através da obra de Cristo para as boas obras. (Ef 2.10; Tt 2.14). A fé genuína produzirá boas obras (Tg 2.17) e a obediência a Cristo é vista no Novo Testamento como o sinal necessário que comprova que somos crentes verdadeiros e membros da nova aliança (1 Jo 2.4-6).


C         A promessa de benção

            A promessa de benção na aliança da graça é uma promessa de vida eterna. Esta promessa é frequentemente repetida no Antigo e no Novo Testamento.

            “Eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo

            Vemos esta promessa em Abrão
“Estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência no decurso das suas gerações, aliança perpétua, PARA SER O TEU DEUS E DA TUA DESCENDÊNCIA. Dar-te-ei e à tua descendência a terra das tuas peregrinações, toda a terra de Canaã, em possessão perpétua, e SEREI O SEU DEUS”. (Gênesis 17.7-8).

Citada ao longo do Antigo Testamento
           
            Jr 31.33; 32.39-40; Ez 34.30,31; 36.28; 37.26,27

Citado por Paulo

Que ligação há entre o santuário de Deus e os ídolos? Porque nós somos santuário do Deus vivente, como ele próprio disse: Habitarei e andarei entre eles; SEREI O SEU DEUS, E ELES SERÃO O MEU POVO. (II Coríntios 6.16).

Falando sobre a nova aliança, o autor de Hebreus cita Jeremias 31; “Eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo” Hb 8.10
           
            Esta benção se cumpre na igreja, que é o povo de Deus, mas encontra seu cumprimento maior no novo céu e na nova terra.
Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. DEUS HABITARÁ COM ELES. ELES SERÃO POVOS DE DEUS, e Deus mesmo estará com eles. (Apocalipse 21.2)


D         O sinal (sacramento) dessa aliança

            Este sinal varia entre o Antigo e Novo Testamento. No Antigo Testamento o sinal exterior do inicio do relacionamento dentro da aliança era a circuncisão (Gn 17.9-14, Rm 4.11,12). O Sinal da permanência no relacionamento era continuar a observar todas as festas e leis cerimoniais que Deus deu ao povo em várias ocasiões. Na nova aliança, o sinal do inicio do relacionamento dentro da aliança é o batismo (Cl 2.11,12), e o sinal da permanência é a ceia do Senhor (II Co 11.23-34).
            Com respeito a circuncisão e Batismo, R.C.Sproul diz:
“Embora o batismo e a circuncisão não seja idênticos, têm pontos  cruciais em comum. Ambos são sinais de aliança e ambos são sinais de fé”[1]
Calvino diz:
“O pacto é comum; comum é a razão de confirmá-lo. Só o modo de confirmar é diverso, porque àqueles era a circuncisão, a qual foi substituída pelo batismo”.[2]


E         Unidade estrutural das alianças
           

Apesar de os elementos essenciais da aliança da graça permanecerem os mesmos por toda a história do povo de Deus, os termos específicos da aliança variam conforme a ocasião. Na época de Adão e Eva havia apenas uma singela sugestão da possibilidade de um relacionamento com Deus na promessa da semente da mulher em Gênesis 3.15 e na provisão graciosa, da parte de Deus, de vestir Adão e Eva (Gn 3.21). 
Na aliança com Noé, Deus prometeu não mais destruir a terra com água (Gn 9:8-17).
Na aliança com Abraão estão presentes todos os elementos da aliança da graça (Gn 15:1-21, 17:1-27; Gl 3:8; Lc 1:72-73; Rm 4:1-25; Gl 3:6-18,29; Hb 2:16, 6:13-20).
Na aliança com Moisés (chamada de “velha aliança”, II Co 3:14; Hb 8:6,13) estão os elementos que serão substituídos (leis cerimoniais) pelos elementos da “nova aliança” em Cristo (Lc 22:20; I Co 11:25; II Co 3:6; Hb 8:8,13, 9:15, 12:24). 
A razão da velha aliança foi restringir os pecados do povo e conduzi-lo a Cristo (Gl 3:19,24). Essa aliança não removia o pecado, mas prefigurava quem realmente removeria, Cristo (Hb 9:11-28). Na verdade, não falta graça nessa aliança (Gl 3:16-18). 
Na nova aliança em Cristo cumprem-se as promessas feitas em Jr 31:31-34, citadas em Hebreus 8:6-13. Nesta aliança há bênçãos muito maiores porque Jesus, o Messias, já veio; ele viveu, morreu e ressuscitou entre nós, expiando para sempre os nossos pecados (Hb 9:24-28); ele nos revelou Deus da forma mais plena (Jo 1:14; Hb 1:1-3); ele derramou o Espírito Santo sobre todo o seu povo com o poder da nova aliança (At 1:8; I Co 12:13; II Co 3:14-18); ele escreveu suas leis em nosso coração (Hb 8:10).
Esta nova aliança é a “aliança eterna” (Hb 13:20) em Cristo, através da qual teremos sempre comunhão com Deus, e ele será nosso Deus, e nós seremos seu povo.



[1] SPROUL. R.C. Verdades Essenciais da Fé Cristã: doutrinas básicas em linguagem simples e prática. São Paulo: Cultura Cristã, 1999. 3vls. Pg. 18.
[2] CALVINO, João. As institutas. Vl 4. Pg. 315

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