sábado, 15 de outubro de 2011

O DOM DE LÍNGUAS - Parte 7 - I Coríntios 14.6-19

Davi Helon de Andrade


2          LINGUAS SÃO INUTEIS SE NÃO TIVEREM INTERPRETAÇÃO (I Co 14.6-19)


Paulo também dizia que não havia proveito algum ele falar em línguas enquanto estivesse com a Igreja de Corinto.

Agora, porém, irmãos, se eu for ter convosco falando em outras línguas, em que vos aproveitarei, se vos não falar por meio de revelação, ou de ciência, ou de profecia, ou de doutrina?” I Co 14.6.

            O critério de Paulo continua na edificação, pois a inferioridade das línguas é manifesta, pois este dom não da dá proveito aos ouvintes. Mas os que dão proveito são: revelação, ciência, profecia e doutrinamento. Todos estes estão ligados à inteligência e não algo extático (14.29,31-33).

A         Línguas na Igreja sem interprete é como um instrumento tocado sem notas (7-9a)

Paulo usa a ilustração de um instrumento musical para dizer a respeito do dom de língua:

Da mesma sorte, se as coisas inanimadas que fazem som, seja flauta, seja cítara, não formarem sons distintos, como se conhecerá o que se toca com a flauta ou com a cítara? Porque, se a trombeta der sonido incerto, quem se preparará para a batalha?” I Co 14.7-8

Assim como o instrumento musical nada transmite aos seus ouvintes a menos que seja tocado com um propósito inteligente, assim é falar em língua na Igreja, Paulo, o Apostolo dos gentios diz que não há proveito, se a língua não disser palavras compreensíveis.


B         Línguas na Igreja sem interprete podem nos tornar estranhos uns para com os outros (9-12a)

O texto nos mostra que a língua falada na Igreja tem o poder de nos tornar estranhos uns aos outros. (14.9-11)

Se eu, pois, ignorar a significação da voz, serei estrangeiro para aquele que fala; e ele, estrangeiro para mim”. (14.11).

A palavra estrangeiro é ba,rbarojBarbaros” e “denota uma pessoa cuja linguagem soava como “bar, bar”, isto é, cujo idioma não faz sentido[1]” Seria literalmente hoje em dias os “bla, bla, bla[2].
Paulo então diz que é assim que acontece com a Igreja que fala em línguas sem interprete.


C         Devemos progredir para os dons que trazem edificação para o corpo (12)

Paulo então exorta a Igreja de Corinto a progredir nos dons que trazem a edificação da Igreja, vemos aqui Paulo dando menos valor ao dom de línguas e incentivando aos que se dizem espirituais a progredirem desejando os dons que edifiquem a Igreja.

            “Assim, também vós, visto que desejais dons espirituais, procurai progredir, para a edificação da igreja”. (14.12).

            Sendo que devemos seguir para a edificação da Igreja, línguas necessitam de interpretação (13), por isso aquele que tem o dom não deve contentar-se com ele. “Dando-se conta do seu valor limitado, deve orar pedindo o dom de interpretação, de sorte que o que ele diz, seja útil para a edificação[3].”
            Mais uma vez, língua sem interpretação é inútil, pois Paulo argumenta que o espírito ora de fato, mas a mente fica infrutífera.

Pelo que, o que fala em outra língua deve orar para que a possa interpretar. Porque, se eu orar em língua estranha, o meu espírito ora bem, mas o meu entendimento fica sem fruto”. (14.13,14).

Paulo então faz uma pergunta para instruir a Igreja.

Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com a mente; cantarei com o espírito, mas também cantarei com a mente”. (15) (grifo meu)
           
            Paulo exorta a Igreja de Corinto a orar com a razão, para que os membros da congregação possam ser capazes de acompanharem o que esta sendo falado. (16-17). Pois como seriam capazes de dizer amém (sig. assim seja, verdadeiramente) para uma oração ou louvor que não estamos entendo.
            Paulo usa a palavra indouto, pode indicar um visitante na Igreja, ele não vai entender nada, por isso ele é incapaz de dizer amem (verdadeiramente), diferentemente da profecia que vai expor os segredos do seu coração (25).
            Quem são os indoutos?
            Leon Morris explica o indouto como, “gente que não havia se comprometido com o cristianismo, mas estava interessada[4]”, reparem que eles são distinguidos dos incrédulos (14.24).   
           

D         Paulo prioriza o que é inteligível (14.18-19)

Dou graças ao meu Deus, porque falo mais línguas do que vós todos. Contudo, prefiro falar na igreja cinco palavras com o meu entendimento, para instruir outros, a falar dez mil palavras em outra língua”. (I Co 14.18-19)

            Paulo também diz que fala em línguas mais do que os da Igreja de Corinto, daqueles que se acham espirituais, porém ele prefere usar cinco palavras inteligíveis do que dez mil que ninguém vai entender.
            Se esta era a preferência de Paulo, porque não pode ser a nossa também? Por que hoje muitos crentes querem vestir a capa de “espiritualidade” de línguas e falarem 10 mil palavras que ninguém entende? E menosprezam a palavra do apostolo Paulo.
            O que interessa no culto é a edificação da Igreja.

           Até o próximo post

[1] RIENECKER, Fritz, ROGERS, Cleon. Chave lingüística do Novo Testamento grego. São Paulo: Vida Nova, 1995, p. 322.
[2] A palavra "bárbaro" provem do grego antigo, βάρβαρος, e significa "não grego". Era como os gregos designavam os estrangeiros, as pessoas que não eram gregas e aqueles povos cuja língua materna não era a língua grega. Principiou por ser uma alusão aos persas, cujo idioma gutural os gregos entendiam como "bar-bar-bar". "barbarous" pelos gregos. Oxford English Dictionary, 2.ª Edição, 1989
[3] MORRIS, Leon. I Coríntios. Introdução e comentário. São Paulo. Mundo Cristão, 1983. p. 156.
[4] MORRIS, Leon. I Coríntios. Introdução e comentário. São Paulo. Mundo Cristão, 1983. p. 157.

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