segunda-feira, 26 de setembro de 2011

O DOM DE LÍNGUAS - Parte 4 - A natureza das Línguas


Davi Helon de Andrade


O que significa a palavra línguas ou idiomas? O que realmente era falando quando o Espírito Santo capacitava os crentes a falarem em línguas? Qual era a natureza destas línguas, terrenas ou celestiais (angelicais)?
Que tipo de língua tem sido falada nas Igrejas de hoje?

John Mac’Arthur alista algumas hipóteses[1].

1.      Podem ser satânicas ou demoníacas, pela própria experiência digo isto (eu Davi o autor), pois já expulsei demônio de uma menina de 15 anos e o demônio ficava falando em línguas na minha frente. Além do mais, “Atualmente religiões como o Espiritismo apresentam fenômenos semelhantes, incluindo manifestações de Xenoglossia. Fenômenos de glossolalia são observados também no xamanismo, no vodu haitiano, em alguns grupos judaicos hassídicos e entre os sufi muçulmanos[2]”.

2.      As línguas podem ser aprendidas, pois é muito fácil alguém que se diz ser batizado no Espírito Santo copiar as palavras que outros estão dizendo na oração, se prestarmos atenção veremos que muitas pessoas falam em línguas iguais umas as outras.

3.      As línguas podem ser psicológicas. “As Pessoas que falam em línguas entram num automotismo motor, clinicamente descrito como um desprendimento interior radical do ambiente consciente… As pessoas se desligam de tudo ao redor, entra em um estado em que não esta mais conscientemente no controle de si, e as línguas fluem facilmente.”[3]

Analisemos de forma mais profunda o que eram as línguas faladas na Bíblia.


A         A palavra língua/idioma

            Duas palavras são usadas para línguas no Novo Testamento:

*     glw/ssa = Glossa que significa, “língua”, “linguagem”, “fala”, “órgão físico de humanos e animais[4]” (At 2.3; 4, 11; 10.46; 19.6).
*     dia,lektoj = dialektos que significa, “idioma”, “dialeto”, “linguagem”, “expressão de fala[5]” (At 2.6, 8; 1 Co 12.10, 28, 30; 14.2).

O termo glossa quando usado com respeito ao discurso humano, sempre se refere ao falar idiomas humanos existentes, e quando não se refere aos idiomas falados, pode também se referir ao órgão corporal[6].
No antigo testamento grego (septuaginta) a palavra glossa aparece 30 vezes sempre se referindo aos idiomas reais ou como o órgão físico de seres humanos e animais (Ex 4.10).
Em Atos 2 glossa é usando intercambiavelmente com dialektos, significando também “língua ou idioma peculiar de um povo”, prova disso é que são listados quatorze nações em Atos 2.9,10:

Somos partos, medos, elamitas e os naturais da Mesopotâmia, Judéia, Capadócia, Ponto e Ásia, da Frígia, da Panfília, do Egito e das regiões da Líbia, nas imediações de Cirene, e romanos que aqui residem”,

Um grande problema que tem ocorrido é uma versão de Bíblia em português a “Almeida Revista e Corrigida”, que trás a palavra estranha em 1 Coríntios 14.2:

Porque o que fala língua estranha não fala aos homens, senão a Deus; porque ninguém o entende, e em espírito fala de mistérios”. (Grifo meu)

A Palavra estranha não existe no original grego:
Analisemos o versículo em grego:

ga.r lalw/n glw,ssh| ouvk avnqrw,poij lalei/ avlla. qew/|\ ouvdei.j ga.r avkou,ei( pneu,mati de. lalei/ musth,ria\ (Grifo meu)

Para que a tradução fosse “língua estranha” seria necessário à palavra estranho, “avllotri,wn” no grego entre as palavras grifadas no versículo acima, repare que ela não existe no original.

Então, a tradução correta seria:

Pois quem fala em língua, não fala a homens”.

A idéia de uma língua angelical ou estranha no sentido de que é incomum aqui na terra ou que não existe é descartada no Novo Testamento. As palavras glossa e dialektos trazem a idéia de línguas humanas.
Mas, Paulo não diz que falava a língua dos anjos?
Muito ao lerem a declaração de Paulo em 1 Corintios 13.1 dizem que as línguas que 1 Corintios ensina, são línguas angelicais.
Analisemos o texto.

Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine”.

Paulo em nenhum momento diz que falava as línguas dos anjos, Paulo aqui usou de uma hipérbole (exagero), para poder explicar a necessidade primordial do amor. Paulo usa o subjuntivo no grego para a palavra “fale” e normalmente quando se usa o subjuntivo no grego é para escrever uma situação improvável, hipotética e hipérbole e uma conjunção subordinada “Ainda”, dando a total idéia de hipérbole.
Paulo estava dizendo: “Suponha que eu falasse a línguas dos homens e dos anjos…”


B         Estas línguas louvavam a Deus

Outro ponto a entendermos é que a natureza das línguas manifestadas em Atos e Corinto eram de louvores a Deus e não revelações como acontece nos dias de hoje, alguém que ora em língua, e então, ou ele mesmo, ou outro interpreta uma revelação para Igreja, o dom de e profecia é outro dom.
Os relatos bíblicos em que apareceram línguas e no ensino de Paulo aos Coríntios é que eram feitos louvores a Deus.

...Como os ouvimos falar em nossas próprias línguas as grandezas de Deus?” At 2.11b
pois os ouviam falando em línguas e engrandecendo a Deus. Então, perguntou Pedro:” At 10.46
E, se tu bendisseres apenas em espírito, como dirá o indouto o amém depois da tua ação de graças? Visto que não entende o que dizes” (I Co 14.16)


C         No contexto de cada acontecimento

1          Atos 2.6-11

Natureza das línguas: humanas. Os judeus entendiam ouviam os discípulos falarem em suas próprias línguas (At 2.7-11).

E, correndo aquela voz, ajuntou-se uma multidão e estava confusa, porque cada um os ouvia falar na sua própria língua. Estavam, pois, atônitos e se admiravam, dizendo: Vede! Não são, porventura, galileus todos esses que aí estão falando? E como os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna? Somos partos, medos, elamitas e os naturais da Mesopotâmia, Judéia, Capadócia, Ponto e Ásia, da Frígia, da Panfília, do Egito e das regiões da Líbia, nas imediações de Cirene, e romanos que aqui residem, tanto judeus como prosélitos, cretenses e arábios. Como os ouvimos falar em nossas próprias línguas as grandezas de Deus?” (At 7-11).

            Observem que no contexto havia judeus de pelo menos quatorze nações, e eles ouvim os galileus louvando a Deus em suas línguas maternas, conforme o Espírito Santo concedia o dom aos discípulos (2.4).


2          Atos 10.44-46

Natureza das línguas: humanas

            Ainda Pedro falava estas coisas quando caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra. E os fiéis que eram da circuncisão (Judeus), que vieram com Pedro, admiraram-se, porque também sobre os gentios foi derramado o dom do Espírito Santo; pois os ouviam falando em línguas e engrandecendo a Deus...:

            Observem que os judeus que estavam com Pedro, entendiam os gentios engrandecendo a
Deus na suas línguas.


3          As línguas em Corinto

            Natureza da línguas: humanas.
            Vemos que as línguas de Coríntios são humanas por três motivos.

1.      A palavra grega para interpretação (14.26,28) hermeneiane`rmhnei,an”, é uma palavra usada para tradução de idioma estrangeiro.
2.      Pela analogia entre línguas e idiomas estrangeiros reais nos versículos (14. 10,11).
3.      Pela comparação de línguas com o idioma estrangeiro real dos assírios nos versículos (14.21,22).

            Na lei está escrito: Falarei a este povo por homens de outras línguas e por lábios de outros povos, e nem assim me ouvirão, diz o Senhor. De sorte que as línguas são um sinal, não para os fiéis, mas para os infiéis; e a profecia não é sinal para os infiéis, mas para os fiéis.


Até o próximo post


[1] MAC’ARTHUR. John. Os carismáticos. Editora Fiel. São José dos Campos: Editora Fiel, 2002,  Cap. 14.
[2] Ver. GLOSSOLÁLIA, http://pt.wikipedia.org/wiki/Dom_de_l%C3%ADnguas.
[3] MAC’ARTHUR. John. Os carismáticos. Editora Fiel:  São José dos Campos: Editora Fiel, 2002,  p. 171.
[4] BROWN, Colin, COENEN, Lothar. (orgs). Dicionário internacional de Teologia do Novo Testamento. 2.ed. São Paulo: Vida Nova, 2000, p. 1507.
[5] Ibid., p.1508.
[6] SCHUERTLEY, Brian. Falar em línguas. www.monergismo.com.br. p. 1.

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