quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O BATISMO INFANTIL É BÍBLICO?

Davi Helon de Andrade

           Sempre ouvi, “O Batismo Infantil é católico e é errado, e os evangélicos devem batizar somente os que crêem, pois batizar crianças é errado é não tem base bíblica”. Ou, “Os evangélicos que batizam crianças são iguais aos católicos, logo estão errados”.
            Sempre me intrigou em ver grandes teólogos que muitos dos evangélicos gostam de ler e estudar, os admiram muito, mas são homens que aceitam o Pedobatismo (batismo infantil), posso citar alguns deles aqui: João Calvino, Jonathan Edwards, Charles Hodge, Louis Berkhof, Antony Hoekema, Willian Hendriksen, Leon Morris, R.C. Sproul, John Stott, Augustus Nicodemus, Heber Campos, Hernandes Dias Lopes e tantos outros.
            Creio que o Batismo infantil é muito questionado no meio evangélico, devido a desvios do seu real significado e um mau entendimento do que ele significa.
            Por isso, eu gostara que juntos nós víssemos uma visão bíblica e reformada do Batismo Infantil.


            Para entendermos o batismo infantil, e importante termos bem em mente o que é a Igreja e sua relação com Israel.
 A Igreja do Novo Testamento é chamada de Israel de Deus pelo apostolo Paulo (Gl 6.16), já que para ele agora tanto os cristãos judeus como os cristãos gentios foram unidos na mesma Igreja, e juntos eles foram feitos um (Ef 2.11-19).
naquele tempo, estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo. Mas, agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo”. (Ef 2.11,12)

Depois ele diz que foram unidos na mesma Igreja e feitos um pela sangue de Cristo.
“Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um; e, tendo derribado a parede da separação que estava no meio, a inimizade, aboliu, na sua carne, a lei dos mandamentos na forma de ordenanças, para que dos dois criasse, em si mesmo, um novo homem, fazendo a paz, e reconciliasse ambos em um só corpo com Deus, por intermédio da cruz, destruindo por ela a inimizade. E, vindo, evangelizou paz a vós outros que estáveis longe e paz também aos que estavam perto; porque, por ele, ambos temos acesso ao Pai em um Espírito. Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus,” Efésios 2.13-19

O apostolo Pedro escrevendo também a gentios usa uma linguagem em que era usada para Israel no Antigo Testamento e a Igreja nestes versículos é chamada de:

Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz;” I Pe 2.9

Assim como no Antigo Testamento
Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então, sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos; porque toda a terra é minha; vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa. São estas as palavras que falarás aos filhos de Israel”. Ex 19.5,6

Pedro ainda diz que nós não éramos povo de Deus, mas agora somos:
Vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes misericórdia”. I Pe 2.10


            A confissão de fé de Westminster define Igreja como:

“A Igreja católica ou universal, que é invisível, consta do numero total dos eleitos que já foram, dos que agora são e dos que ainda serão reunidos em um só corpo sob Cristo, sua cabeça: ela é a esposa, o corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todas as coisas[1]
           
Por esta definição entendemos que a Igreja é composta de todos os salvos. Paulo em Efésios 5.25 afirma “Cristo amou a Igreja e se entregou por ela”. Aqui o termo Igreja é usado para referir-se a todos aqueles pelos quais Cristo morreu, todos os salvos do Antigo e Novo Testamento, Igreja que Cristo comprou com o seu sangue (At 20.28).
Já que entendemos que todos os cerimoniais do Antigo Testamento apontavam para Cristo (Cl 2.16,17; Hb 10.1-10), e que não foram estes cerimoniais que salvaram os crentes do Antigo Testamento, mas a morte de Cristo e como ele morreu pela sua Igreja e derramou o seu sangue para comprá-la, e isto também inclui os crentes do Antigo Testamento.
            O próprio Senhor Jesus disse que edificaria sua Igreja em (Mt 16.18), porém mais a frente ele a reconhece como uma instituição já existente (Mt 18.17).
Entendemos com isto que a Igreja é o Israel de Deus e não uma nova constituição, para maiores informações leiam http://theologiaevida.blogspot.com/2011/05/por-que-deixei-o-dispensacionalismo.html
           

O que é o batismo infantil?

            Entendemos pela Palavra que Deus fez um pacto com Abrão (Gn 12.1-3) e o Senhor diz que em Abraão seriam abençoadas todas as famílias da terra:
Ora, disse o SENHOR a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra”.

Já no capítulo 17 o Senhor Deus chama a Abraão  dizendo que Ele seria o Deus da sua descendência “  (Gn 17.7)
Estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência no decurso das suas gerações, aliança perpétua, para ser o teu Deus e da tua descendência”.

E Deus sela este pacto com a circuncisão (Gn 17.9-14).
            Disse mais Deus a Abraão: Guardarás a minha aliança, tu e a tua descendência no decurso das suas gerações. Esta é a minha aliança, que guardareis entre mim e vós e a tua descendência: todo macho entre vós será circuncidado. Circuncidareis a carne do vosso prepúcio; será isso por sinal de aliança entre mim e vós. O que tem oito dias será circuncidado entre vós, todo macho nas vossas gerações, tanto o escravo nascido em casa como o comprado a qualquer estrangeiro, que não for da tua estirpe. Com efeito, será circuncidado o nascido em tua casa e o comprado por teu dinheiro; a minha aliança estará na vossa carne e será aliança perpétua. O incircunciso, que não for circuncidado na carne do prepúcio, essa vida será eliminada do seu povo; quebrou a minha aliança

Este sinal veio a existir depois da fé de Abraão, pois ele era o selo de sua fé em Deus.
Ele creu no SENHOR, e isso lhe foi imputado para justiça”. (Gn 15.6)
E recebeu o sinal da circuncisão como selo da justiça da fé que teve quando ainda incircunciso; para vir a ser o pai de todos os que crêem, embora não circuncidados, a fim de que lhes fosse imputada a justiça, e pai da circuncisão, isto é, daqueles que não são apenas circuncisos, mas também andam nas pisadas da fé que teve Abraão, nosso pai, antes de ser circuncidado.” (Rm 4.11,12)

Vemos claramente que o filho de Abraão Isaque veio a ser circuncidado após o nascimento, mesmo antes que tivesse fé (Gn 21.4), e todo israelita homem era circuncidado ao oitavo dia após o nascimento. Mas o principal para Deus era a circuncisão do coração.
O SENHOR, teu Deus, circuncidará o teu coração e o coração de tua descendência, para amares o SENHOR, teu Deus, de todo o coração e de toda a tua alma, para que vivas”. (Dt 30.6)
Circuncidai-vos para o SENHOR, circuncidai o vosso coração, ó homens de Judá e moradores de Jerusalém, para que o meu furor não saia como fogo e arda, e não haja quem o apague, por causa da malícia das vossas obras”. (Jr 4.4)

Também vemos que quando algum homem se convertia a religião israelita (chamado de prosélito) depois de velho, ele recebia a circuncisão e deviria cumprir a Lei como um israelita, logo ele também circuncidaria seus filhos homens ao oitavo dia como um judeu.
Porém, se algum estrangeiro se hospedar contigo e quiser celebrar a Páscoa do SENHOR, seja-lhe circuncidado todo macho; e, então, se chegará, e a observará, e será como o natural da terra; mas nenhum incircunciso comerá dela. A mesma lei haja para o natural e para o forasteiro que peregrinar entre vós”. (Ex 12.48,49)

Da mesma forma no Novo Testamento o Batismo é o sinal da Nova Aliança (Cl 2.11,12).
Nele, também fostes circuncidados, não por intermédio de mãos, mas no despojamento do corpo da carne, que é a circuncisão de Cristo, tendo sido sepultados, juntamente com ele, no batismo, no qual igualmente fostes ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos”.

Assim como no Antigo Testamento o Senhor fez uma aliança incluindo a família (Gn 17.7), “Estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência no decurso das suas gerações, aliança perpétua, para ser o teu Deus e da tua descendência.

Da mesma forma Ele as inclui no Novo Testamento (At 2.38,39; 16.14,15; 16.33; I Co 1.16; 7.14). É por isso que vemos famílias inteiras sendo batizadas no Novo Testamento.
E ao contrario do que dizem que o Novo Testamento não ordena o batismo infantil, da mesma forma ele não condena, mas mostra famílias inteiras sendo batizadas.

UMA PERGUNTA A SER FEITA PARA AQUELES QUE REJEITAM O BATISMO INFANTIL É, ONDE BIBLICAMENTE DEUS ABOLIU O SINAL DA ALIANÇA NOS INFANTES?

Deus inclui as crianças no pacto com seu povo, os filhos dos judeus eram chamados de “semente santa” (Es 9.2; Is 6.13) e os filhos dos crentes gozam do status de filhos da aliança e também são chamados de santos (I Co 7.14), portanto devem ser batizados do mesmo modo que os filhos meninos dos judeus eram anteriormente circuncidados.

Calvino falando sobre o pedobatimos diz:
“O pacto é comum; comum é a razão de confirmá-lo. Só o modo de confirmar é diverso, porque àqueles era a circuncisão, a qual foi substituída pelo batismo[2]”.
R.C.Sprou diz:
“Embora o batismo e a circuncisão não seja idênticos, têm pontos  cruciais em comum. Ambos são sinais de aliança e ambos são sinais de fé[3]”.

            Uma coisa a se deixar muito clara aqui é que ser batizado na infância não significa salvação da criança, pois para a salvação é necessário a fé (Jo 3.16; Rm 5.1), mas sim uma consagração formal e pública dos filhos dos crentes a Deus. Uma expressão da fé dos pais na promessa do pacto de Deus.
           

            CIRCUNCISÃO, APRESENTAÇÃO E O BATISMO DE JESUS

            Muitos argumentam que Jesus foi circuncidado, apresentado no templo e batizado, falam destes rituais para afirmarem que o Batismo Infantil não tem base. Vejamos então o que cada um deste ritos significam.

           Circuncisão e apresentação de Jesus

        Jesus foi circuncidado ao oitavo dia como prescrevia a Lei (Gn 17.12), pois Jesus nasceu debaixo da lei (Gl 4.4).
         Logo, se Jesus nasceu debaixo da lei, ele também deveria ser apresentado no templo, que era um rito primeiramente de purificação da mulher, pois segunda a lei mosaica, a mulher que dava a luz a um filho era considerada cerimonialmente impura por sete dias depois do nascimento do menino. Por outros trinta e três dias ela devia se guardar de tocar em coisas santas. Passados os dias, a mãe então vinha ao templo e devia ofertar um cordeiro mais uma pomba ou uma rola. Se fosse pobre, sua oferta seria duas pombas ou rola, logo Maria ofereceu oferta de pobre (Lv 12.1-8). Além do que, o primeiro filho homem de uma mulher devia ser apresentado ao Senhor. (Ex 13.12)

               O Batismo de Jesus

            O batismo de Jesus era chamado de Batismo de purificação, lembrem-se que os pecadores vinham para ser batizados por João Batista “Arrependei-vos porque esta próximo o reino dos céus.” (Mt3.2).
Este batismo era principalmente para Israel que espera o Messias e o Reino. Era um rito de purificação (Atos 19.4). Preparando-os para o Messias, o seu reino e juízo. (Mt 3.7-12)
            Como Jesus nasceu debaixo da lei (Gl 4.4), ele também deveria cumpri-la:
Mas Jesus lhe respondeu: Deixa por enquanto, porque, assim, nos convém cumprir toda a justiça. Então, ele o admitiu. (Mt 3.15)
Jesus tinha de submeter-se a toda as exigências da lei de Deus para Israel e identificar-se com aqueles cujos pecados ele tinha vindo carregar. Logo, seu batismo anunciou que ele viera tomar o lugar do pecador sujeito ao mesmo juízo de Deus.

       Lembrando que em Atos 19, os discípulos de João de Éfeso, que haviam sido batizados por ele, foram novamente batizados por Paulo (At 19.1-7), mostrando a diferença entre os dois batismos, sendo um de purificação e o outro de inicialização, ou seja, selo da graça.



Os pais da Igreja também adotavam o batismo infantil.

·         Irineu ( do 1 século) - Escreveu sobre o batismo infantil dizendo que Cristo mandou a igreja batizar todos os que foram alvos do evangelho, e assim, as criancinhas deveriam ser batizadas, ele declara isso em seu livro “Contra as Heresias, Livro III, Capítulo 9”.
·         Justino Mártir, que chegou a ver o apóstolo S. João, escreve : “Cristãos de ambos os sexos, alguns de 60, outros de 70 anos de idade se tornaram discípulos pelo Batismo desde a infância”.  Justino: apologia, vol.1.
·         Origenes que viveu 85 anos depois da morte do apostolo João escreveu (185-254 A.D.), "de acordo com o costume da Igreja, o batismo é conferido às crianças" [Homilia a Leviticus 8:3:11, (244 d.C.}]A igreja recebeu uma ordem dos apóstolos para dar o batismo também as crianças” (Comentário de Romanos).
·         Hippolito (215 A.D), “batize-se primeiro as crianças, e se elas podem falar, deixe-as falar. Se não, que seus pais ou outros parentes falem por elas" (Tradição Apostólica 21,16).


O Batismo infantil é uma prática Bíblica e histórica da Igreja e precisamos resgatá-la em nosso meio.


Para terminar, gostaria de colocar o que R.C.Sproul diz:
“A nova aliança é mais inclusiva do que a Antiga Aliança. Aqueles que contestam a validade do batismo de crianças estão tornando a Nova Aliança menos inclusiva com relação às crianças, a despeito da ausência de qualquer proibição bíblica contra o batismo de crianças[4]”.

Até o próximo post



[1] Confissão de fé de Westminster. Cap. XXV.
[2] CALVINO, João. As institutas. Vl 4. Pg. 315.
[3] SPROUL. R.C. Verdades Essenciais da Fé Cristã: doutrinas básicas em linguagem simples e prática. São Paulo: Cultura Cristã, 1999. 3vls. Pg. 18.
[4]Ibid., p. 18.

5 comentários:

  1. Davi, pense bem: não é de admirar que um arminiano (ainda que negue este 'título' a si mesmo) condene o batismo infantil. Aceitar o batismo infantil, tal como a Igreja pratica a séculos - e não da forma como eles dizem que fazemos - é que seria uma aberração ao seu "sistema teológico", pois no caso deles, quem comanda a salvação é o arbítrio do homem e batizar uma criança seria agredir este arbítrio que o salvará quando ele bem o quiser!...

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  2. Boa tarde meu irmão Zeznho!
    Fico contente com seus comentários aqui no meu blog e quero que você saiba que estou seguindo seus conselhos, ainda estou aprendendo a lidar com isto, cada dia aprendo um pouco mais. Torne-se um seguidor também. Um grande abraço.

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  3. Davi, estudo a palavra desde pequeno e vejo tudo que nos trouxe neste post foi inspirador pra mim... A primeira pessoa que vejo colocar isso simples e completo... Concordei com todas as palavras...

    Fica na paz irmão

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  4. Bom dia,

    Acho que esta doutrina priva a oportunidade do neófito de declarar publicamente sua "ruptura" com o velho homem.

    Será que a ordem em que aparece no texto bíblico é aleatória?

    “Quem crer e for batizado será salvo..."( Marcos 16:16 )


    Batismo sucede o arrependimento!

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    1. Bom dia querido irmão,
      Creio sim que é lindo quando um neófito declara publicamente sua fé, mas eu não posso simplesmente pegar este texto e criar a regra do batismo, como coloquei no artigo, famílias inteiras eram batizadas no Novo Testamento, os pais da igreja concordavam com o Batismo Infantil, da mesma forma judeus prosélitos eles eram circuncidados adultos e consequentemente seus filhos. Um outro entendimento que devemos ter é sobre Igreja e Israel, isto faz toda diferença também. Um grande abraço.

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